sexta-feira, 17 de setembro de 2010

jardim Noia na sede dos Sindicato dos Professores, Fortaleza - Ceará


Nesta Sexta, 17.09, teremos jardins Noia no Quintal com Arte.


na sede dos Sindicatos dos Professores - Fortaleza - Ceará.


A partir das 19:00 hs.

domingo, 22 de agosto de 2010

jardins, noia, em fortaleza, ceará, brasil

images/lançamento em fortaleza/katiusha de moraes





noia em quixadá

imagens/lançamento noia/quixadá/katiusha de moraes








bom dia/jardins

imagem/catu da manhã/dirceu matos


" Ontem vim me aconchegar na casa de minha mãe, em Fortaleza, e encontrei sobre a mesa um jardim chamado Noia.



Entre tiros e cartas de amor, dormi e acordei.




Dormi angustiada com os gritos das vítimas durante os rituais de tortura, saídos de dentro das páginas.



Acordei com o negrume daquele olhar epigrafando o seu nome no horizonte e fiquei molinha como margarina passada no pão quentinho.

Me deu uma fome de amor. Uma vontade enorme de tomar café... Bom dia! "


Magna Moraes

sementes do noia

" Nascedouro
Abrindo os olhos pra tudo que brilha, tudo que brilha
Mas nem só de ouro, nem só de ouro
Acende a vida e inicia o grande drama
Apressado e sem ensaio "
Nação Zumbi



image/mucuripe/dirceu matos

" Foi no limo fertil da rua da lama que
brotaram
ferteis

se
men
tes


da tua prodiga literatura,
e que como boas sementes produzirão sempre bons frutos
numa

cadeia infinita!... " Geraldo Jr.

domingo, 8 de agosto de 2010

matérias na mídia

O Jardim, na quinta-feira, 05 de agosto de 2010, fez a sua aparição no Teatro do Sesc.

pela internet, veio matérias:

Jornal O Povo:


Jornal Diário do Nordeste:



jardim noia - videpoema

Um Jardim Chamado Noia de Deribaldo Santos

- A narrativa conta a saga de uma família.

- Trata-se de um romance memorialista, estruturado em curtos capítulos que correspondem a crônicas.

- Cada capítulo desenvolve em torno de uma célula dramática que reflete o cotidiano a partir da linguagem literária e da memória.

- O escritor escolhe, a partir da memória, um problema dramático, que desenvolve por meio da linguagem narrativa. É com essa linguagem que ele objetiva, reflete a memória do seu cotidiano, completando as lacunas com a criação ou ficção.

- Concorrem para a feitura da narrativa a observação da realidade, a imaginação e a memória.

PARTE I – 11 capítulos

1 O capítulo “O Cheiro do Shopping” trata do presente do narrador que tece questionamentos e denúncias sobre seu cotidiano atual, como uma espécie de novo integrante da classe média de Fortaleza. Aqui, o cheiro e a visão são usados como forma de captação objetiva da realidade que rodeia o sujeito, em busca de discutir querelas existencias e o anseio de transformar a sociedade. O deslocamento do narrador-personagem nesse meio atual será explicado e justificado em seguida, ao longo da história de sua vida em sociedade.

2 “Toda História tem seu começo”: origem da família, migração para o Rio de Janeiro, em 1968, em virtude de uma grande seca.

3 “O Jardim Noia e Suas Particularidades”: descrição e ambientação do espaço – Jardim Noia, bairro de São João de Mereti, Baixada Fluminense.

4 “A Faixa de Gaza Vietnamita”: continua a ambientação de Jardim Noia, um lugar hostil e repleto de violência.

5 “A Rua da Lama”: idem.

6 “A Varanda de Condão de Dona Clarice”: educação, primeira professora, ensino tradicional.

7 “A Prole”: enumera os integrantes da família, tios e primos, “conflituosa família” (p. 38)

8 “Água, Sede e Enchente”: trabalho comunitário para levar água potável para as residências. O narrador revela um sentimento de satisfação pelo trabalho realizado em grupo. Fala também das péssimas condições de infra-estrutura do local, principalmente quando chove.

9 “As Brincadeiras”: futebol.

10 “O Arraiá das Andorinhas”: festas juninas, o título é o nome de um arraiá, que teve grande importância na vida particular do narrador, teve um final trágico.

11 “Grêmio Recreativo Sovaco da Minhoca”: fala sobre samba e carnaval, tradição carioca; os bailes.

PARTE II – 11 capítulos

12 “Mais Flores sobre Esse Jardim”: local de produção de recursos para a criminalidade. Ao lado desse mundo, havia a luta pela sobrevivência. Fala sobre a perspectiva de vida e de futuro. O narrador retorna ao presente para fazer um contraponto entre a atualidade e aquele tempo vivido no Jardim Noia. Aqui, ele confessa serem a paixão e o conflito marcas de sua família.

13 “Seu Isidro e Dona Cassiana”: avós maternos do narrador. Conta a história de Isidro – filho adotivo de fazendeiro paraibano. Recebeu terras de herança que foram tomadas pelos poderosos. Casou-se com Cassiana sem consentimento do pai dela (motivo: racismo). Muda-se para Campina Grande.

14 “Do Brejo à Serra”: perfil psicológico do avô Isidro e as dificuldades de sobrevivência.

15 “Que Todo Sofrimento da Vida Seja ao Menos por Amor”: o namoro e o casamento de Isidro com Cassiana.

16 “Campina Grande e Sua Feira Central”: descrição e ambientação social, econômica e cultural de Campina Grande.

17 “Dona Janaína”: mãe do narrador, mulher autêntica, independente, decidida, batalhadora e generosa. O narrador confessa a tentativa de interpretar sua história. Tia Pilá cuidava à sua maneira da educação da prole.

18 “As Ilelas”: Janaína e Pilá, língua secreta usada por elas.
19 “Completando a Família”: Tio Jotão (Tia Pilá), Tia Branca (Tio Mandu), Tia Cheirosa.

20 “A Casca é Dura”: dificuldades que passaram Tia Pilá e Tio Jotão, logo após o casamento. Foram para o Rio de Janeiro, mas voltaram para Campina Grande. Vendo frustrado o sonho de tornar-se pedreiro em Campina Grande, Tio Jotão retorna ao Rio de Janeiro, depois mandou buscar a esposa, Tia Pilá. Aquisição de terreno no Jardim Noia e a heróica reforma da casa por Tio Jotão, aos domingos. A partir de então toda a família vai morar no Jardim Noia.

21 “Entre o Noia e a Noia Há Outra Opção?”: o autor-narrador tece considerações sobre a contradição do mundo objetivo. Levanta questionamentos existenciais, sobre as condições concretas e humanas, em relação à vida no Jardim Noia, onde viviam na pobreza e à beira da criminalidade, mas a família mantinha a união, talvez para assegurar a sobrevivência do grupo, em contraste com a situação atual da família que ascendeu à classe média, mas perdeu o vínculo que os unia outrora. A causa disso, o próprio narrador revela: a sociedade capitalista.

22 “Se Souber a Resposta me Diga”: o autor-narrador revela os motivos responsáveis pela saída do Noia e a volta ao Nordeste: “a união da família, associada a certos valores nordestinos”. Mais uma vez, revela a sua insatisfação com a situação atual, porquanto há contradição entre os problemas materiais resolvidos e a iminência do individualismo da nova geração.



Wellington Soares
Mestre em Literatura/Letras
UECE/FECLESC

quinta-feira, 29 de julho de 2010

lançamento Sesc Iracema


um jardim no Sesc Iracema

Lançamento do Romance de Deribaldo Santos
um jardim chamado Noia

apresentação : Poeta Katiusha de Moraes

literatura - música - cinema - artes plásticas - fotografias

Nesta 5a. quinta-feira, 5 de agosto de 2010,
no Sesc Iracema, Rua Boris, 90 C – Praia de Iracema (ao lado do Centro Dragão do Mar)
Fortaleza - Ceará - Brasil

quinta-feira, 22 de julho de 2010

se é jardim, onde está a rosa?


(...) Nós, do Noia, ficamos alguns anos desobrigados de pagar uma gota sequer desse líquido precioso.

... Naquele dia, tomei banho de madrugada, molhei-me bastante, sonhando com um chuveiro, promessa de meu avô para quando a tão esperada água chegasse.



Lembro até hoje, e jamais esquecerei, o dia que tomei o primeiro banho de chuveiro lá em casa.

música para escutar ao ler o jardim

Taj Mahal - Jorge Ben


(sempre jorge ben)


Foi a mais linda
História de amor
Que me contaram
E agora eu vou contar

Do amor do príncipe
Shah-Jehan pela princesa
Mumtaz Mahal
Do amor do príncipe
Shah-Jehan pela princesa
Mumtaz Mahal...

Tê Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê...

Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê...

Uhou! Uhou!
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê...(2x)

Foi a mais linda
História de amor
Que me contaram
E agora eu vou contar
Do amor do príncipe
Shah-Jehan pela princesa
Mumtaz Mahal
Do amor do príncipe
Shah-Jehan pela princesa
Mumtaz Mahal...

Tê Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê...

Uhou! Uhou!
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê...(2x)

Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê...

Uhou! Uhou!
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê...(3x)

Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê...

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noia na Europa





Jardim chamado Noia pelas ruas da Espanhas

Jardim e tantos Jardins







Jardins, na Espanha.









Minha primeira vez em Paris


A primeira vez que tive uma oportunidade de ir à Paris, optei por não conhecê-la. Nessa ocasião, restar-me-ia apenas um dia. Passei quase cinco anos achando que tinha feito a coisa errada, o sentimento de arrependimento era uma constante, fiquei me considerando um otário, pois como pode se perder uma chance de visitar a capital das luzas e não ir? Somente eu com minhas decisões exageradas misturadas com minhas escolhas equivocadas.



Hoje, depois de ter passado cinco dias na terra da torre de ferro mais famosa e do planeta, talvez possa avaliar se aquela decisão foi ou não acertada.

Sempre ouvi inúmeras narrativas sobre Paris, umas pitorescas, outras tediosas e extravagantes e algumas muito interessantes e intrigantes. De todas essas histórias três me chamam bastante a atenção. Primeiramente, declaro meu gozo estético pelas palavras do escritor Gabriel García Marquez sobre essa bela cidade; em seguida destaco as reflexões de uma grandiosa estudiosa do marxismo referente à capital francesa e, por fim, as palavras bastantes intrigantes de um amigo e empresário bem sucedido fortalezense quando retornou de sua primeira visita de Paris.




O velho romancista colombiano escreveu, com sua vasta e farta poesia, que não há outro lugar para se exilar. A estudiosa disse-me certa vez que se não fossem tantos os motivos para ser contra o capitalismo, bastar-lhe-ia o fato de todas as pessoas do mundo não terem o direito de conhecer Paris. Para ela, ao nascer, cada ser humano teria que ter anexado ao registro de nascimento uma passagem para essa cidade, para que pudesse, pelo menos, uma vez na vida visitar seus encantos. A descrição do empresário não foi menos curiosa. Movido por seu neo-pragmatismo empresarial, o ascendente homem de negócios declarou que a capital das luzes é a prova de que há outra vida após a morte, pois, segundo seu argumento, quem não conhecer nesta vida Paris, precisará viver novamente para conhecê-la e quem lá já foi, precisará ir novamente. Sem a informação de que esse moço é um ateu convicto, sua declaração nem parece tão polêmica assim.




Cheguei ao aeroporto de Orly em uma quinta feira típica do verão europeu, quase noite e o sol a pino, com temperatura perto dos trinta e dois graus. As condições climáticas, no entanto, não foram meus maiores problemas. Desembarquei com seis horas de atraso, pois os controladores de vôo do aeroporto Barajas, em Madri estavam parados, o que motivou enorme transtorno aéreo na Europa, para piorar a situação a França estava em greve geral – durante a redação desta crônica, Madri prova, pelo segundo dia consecutivo, greve dos trabalhadores do metrô (são as contradições do capitalismo desenvolvido). Em Paris, nada estava funcionando, nem metrô, trem ou ônibus. E agora meu Zé, o que fazer? O jeito foi pegar um taxi. Não, nada disso. Os taxis até o centro são muito caros, além de estarem disputadíssimos em virtude da grande demanda. O que fiz então? Peguei um moto-taxi. Sim! Um moto-taxi.

Não se espantem ainda! O veículo da terra de Vitor Hugo mesmo sendo um moto-taxi, conservando a mesma função dos que se espalham em volta da feira de Quixadá, carrega inúmeras, decisivas e extravagantes diferenças dos moto-taxis da cidade de Raquel de Queiroz.

A motociclista, uma negra de origem martinicana, medindo mais de um metro e oitenta e pesando uns cem quilos; a moto, uma Honda 1200 cilindradas, cor prata, com carenagem por todos os lados. Para que possam ter uma idéia mais aproximada da capacidade desse equipamento, imaginem que seu porta-malas coube, sem dificuldades maiores, minha velha e amiga cachorra de viagem (mochila). A moto tinha, ao lado do guidom, caixas de um sofisticado aparelho de som, uma espécie de avental para cobrir as pernas que os franceses chamam de tablier, um GPS para orientar o endereço e no capacete havia um fone de ouvido articulado com um microfone, onde a moça trocava informações com uma central.


Quando me aproximei da moto ouvi alguma coisa que entendi ser um “senta aí”. Como não falo Francês, tampouco entendo o inglês, o jeito foi, portanto, sentar na garupa e me agarrar, hora nas abas de segurança do veículo e hora na cintura da negona.

A moça subiu, ligou o equipamento e saiu em alta velocidade fazendo zig-zag e cortando os carros à sua frente. Ela dirigia sempre por sobre a linha branca divisora das duas pistas, chegando a atingir, por algumas vezes, cento e vinte quilômetros por hora; com um detalhe aterrorizador para quem estava na garupa: xingava gestualmente, de forma nada elegante, usando o dedo médio da mão esquerda, os motoristas dos carros que dificultavam suas ultrapassagens. Para piorar minha situação de pavor e medo (na hora não deu para diferenciar uma coisa da outra) ela soltava a mão esquerda para operar o GPS, procurando um caminho mais fácil até a Rue de Pyrénées, onde eu ficaria.






Meus amigos, só não caguei por que não tinha bosta pronta!



Ao iniciar esse texto, prometi descrever minhas impressões sobre Paris. A sensação causada pelos cerca de vinte minutos que passei no transporte que me levou do aeroporto de Orly até o meu destino, contudo, não podem se alinhar aquelas três visões anunciadas inicialmente. Por isso, quero terminar dizendo que continuo considerando muito pouco tempo, os cinco dias que lá passei. Apenas para visitar o Louvre, creio ser preciso umas duas semanas para que o visitante possa contemplar parte da história da humanidade. A volta que fiz pelos pontos turísticos foi furtiva e frívola como a de todo e qualquer turista, portanto, sem condições de elaborar um relato sensível como o do ganhador do prêmio Nobel de literatura, finamente irônico e profundo como o da catedrática, ou teologicamente polêmico como o do empreendedor ateu.

Espero ter outra oportunidade, nessa vida é claro, de visitar Paris e assim poder escrever uma rigorosa descrição de seus muitos e lindos dotes.

Junho de 2010

Zé da Campina

terça-feira, 15 de junho de 2010

segue a nau - segue o jardim


Noia & Poesia
" ... como dito, não fui um grande jogador de futebol, nunca toquei instrumento, dinheiro só tive em sonho e criminoso apenas fui em pesadelos ..." Deribaldo Santos





"

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração

Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não"

vinicus/baden



nossos brasis, nossos jardins, nossa literatura:

é futebol, é marginália
é sgarzella, bandido
vida bandida
sonhos
é poesia, é romance,
de noia, noiado, pirado
pirante

vem pro jardim
fazer sonhos, cirandas, cair água e molhar o rosto no primeiro sonho.

m.frança

segunda-feira, 14 de junho de 2010

lançamento em Quixadá

Cartaz-Noia como janela da alma

O sentimento que invade a alma é alegria
com arrepios pelo corpo
tenho desejos de Borboleta
ou quem sabe de "Sininho"...
Se eu pudesse voar!


Regina Coele Q. Fraga

começando Noia


prefácio


Paraibano de nascença, já faz um tempão que compartilho com os conterrâneos da grande nação nordestina a sina da “triste partida” ou, em sentido mais positivo, a missão de “andar por este país”. Quis o desígnio da Providência – os romanos apelariam para a senhora Fortuna, a deusa do destino – que, antes de seguir para o Rio de Janeiro, para fins de formação profissional, eu aportasse por uma segunda vez em terras cearenses para uma missão de dois anos.

Logo no início desta experiência migratória – cheguei a Fortaleza em fevereiro de 2000 -, afortunadamente conheci uma conterrânea e, através dela, fui acolhido filial e fraternalmente no âmbito de sua família. Esta, de raízes paraibanas, cuja segunda geração nascera e se criara no Rio de Janeiro, experimentou o “êxodo” para a capital cearense.

O seu nome, Pilá; filha segunda dos patriarcas da família. No aconchego de sua casa, muitas vezes ao redor da mesa farta, sempre regada com a bebida que alegra o coração, sentávamos para prosear longa e alegremente. Outras vezes, as conversas se davam próximo de um coqueiro, no quintal da casa. Ali, num recinto pequeno e aconchegante, as dimensões pareciam se alongar quilometricamente quando, transpondo os limites do tempo e do espaço, viajávamos nas longas estórias vividas pelos membros da família desde os inícios telúricos na Paraíba, passando pelos anos heróicos de verdadeira gênese – com a dor e a alegria que todo parto compreende – da prole no Jardim do Noia, até o retorno benfazejo às terras nordestinas. De tanto ouvir aqueles casos, de acompanhar narrativamente a saga daquelas pessoas, aquela história foi ficando familiar, como se paulatinamente eu fosse me tornando – para além da mesma origem batismal e geográfica – um membro também de sangue daquela família.

São estas estórias, pelo menos parte essencial delas, que Deribaldo, sobrinho de Pilá, evoca e revive agora neste seu Um jardim chamado Noia. O título evoca o lugar, na Baixada Fluminense, onde a família morou por aproximadamente 22 anos. De forma direta, simples e coloquial, Deri descreve os fatos, narrando-os quase de uma vez só – como se esvazia sofregamente um copo de cerveja numa tarde ensolarada de domingo. O leitor pode, eventualmente, se atordoar com a virada do copo, mas ficará deliciado com a narrativa dos fatos, com a descrição, por vezes pitoresca, das pessoas e dos lugares, com a riqueza de pormenores e, por que não dizer, marcado também pela dureza do cenário, onde as personagens desenvolvem a trama do seu cotidiano existencial.

Mas o autor não se limita a contar a história. No interior mesmo dos fatos contados brotam desabafos, questionamentos e denúncias que vão se costurando em torno da linha mestra da narrativa: a violência urbana, o êxodo rural, a desigualdade de um sistema social injusto, os sonhos e opções abortados por falta de oportunidade, etc. Questões atualíssimas que nos desafiam a todos. Eu, que conheço uma parcela pequena da favela da Rocinha, vejo este drama social vivido em muitos dos nossos “Paraíbas” que lá vivem e continuam a chegar.

O núcleo da história, contudo, parece-me que está na vivência no interior de uma família que, apesar de todos os percalços e dificuldades, soube cultivar valores sólidos, permitindo aos membros do “clã” não só uma estrutura unida e coesa, como também atravessar com segurança um abismo que os podia levar à marginalidade criminal. Daí a saudade, confessadamente sentida pelo autor, daqueles anos vividos no meio da parentela, inserida no Jardim maior do Noia, com seus folguedos juninos, jogos de futebol e experiências várias de caráter social, religioso e familiar que configuravam uma autêntica vivência em comunidade. Surge, então, a pergunta inquietante: no falso dualismo indivíduo-comunidade, que cada vez mais se impõe nos meios urbanos e abastados, como manter uma saudável e harmoniosa articulação entre os dois pólos? Como encontrar nas famílias de hoje – é o questionamento que o autor faz de si mesmo – pessoas que promovam essa integração? Talvez não concordemos com todas as proposições do autor. Mas a sua voz é sincera, atual e pertinente. O leitor vai conferir ao longo da leitura.

No Jardim do Noia, Deri nos conta que havia uma fruteira estéril, que nunca produziu frutos. Em Fortaleza, na casa de D. Pilá, há um coqueiro sob o qual muitas vezes nos reunimos para ouvir as aventuras da família. Os frutos do coqueiro são abundantes, e a doçura de sua água surpreende a qualquer um. Quem sabe não vejamos aí – nos frutos da terra – a vida e o trabalho recompensados dos patriarcas Isidro e Cassiana?! Assim também somos convidados a vislumbrar, nesta história de Deri, uma frutífera produção de um Jardim chamado Noia. Eu, particularmente, sou grato ao autor pelo convite de prefaciar este livro. E, ao fazê-lo, sinto-me feliz por me considerar um rebento tardio deste Jardim.


Lúcio Flávio






um jardim chamado Noia